Veja o que é #FATO ou #FAKE no debate da Globo entre os candidatos à Prefeitura de São Paulo

Veja o que é #FATO ou #FAKE no debate da Globo entre os candidatos à Prefeitura de São Paulo

Os candidatos à Prefeitura de São Paulo Guilherme Boulos (PSOL), José Luiz Datena (PSDB), Pablo Marçal (PRTB), Ricardo Nunes (MDB) e Tabata Amaral (PSB) participaram nesta quinta-feira (3) do debate da TV Globo antes do primeiro turno das eleições 2024.

Foram convidados os candidatos de partidos com, no mínimo, cinco representantes no Congresso Nacional, assim como os que alcançaram pelo menos 6% de intenções de voto na última pesquisa da Quaest, divulgada nesta segunda (30).

Guilherme Boulos (PSOL)

“O orçamento da cidade é de 112 bilhões.”

A declaração é #FATO. Veja por quê: Segundo a Lei Orçamentária Anual (LOA) 2024 da cidade de São Paulo, aprovada pela Câmara Municipal no ano passado, o orçamento da capital para o ano vigente é de R$ 111,8 bilhões, número próximo ao informado pelo candidato.

 

"O problema da sua gestão que essa concessão revelou é um problema de falta de transparência. Foram R$ 5 bilhões em obras sem licitação, que favoreceu amigos seus."

A declaração é #FATO. Veja por quê: Um levantamento feito pela TV Globo com base em dados do Tribunal de Contas do Município mostra que, entre 2021 e 2023, a Prefeitura de São Paulo gastou R$ 5,5 bilhões em obras emergenciais — que são aquelas que dispensam licitação.

Em 2021, foram gastos R$ 335 milhões em obras sem licitação. Em 2022, o valor saltou para R$ 2,3 bilhões. Em 2023, foram R$ 2,9 bilhões. A soma dos três anos, portanto, é de R$ 5.589.676.297,50.

O levantamento da TV Globo também mostra que, em cinco anos, os gastos com obras emergenciais realizadas pela prefeitura da capital paulista cresceram 23 vezes.

Valores gastos pela Prefeitura de São Paulo em contratos de obras emergenciais:

 

  • 2019: R$ 124.539.221,28
  • 2020: R$ 128.986.786,23
  • 2021: R$ 335.771.306,02
  • 2022: R$ 2.352.824.032,32
  • 2023: R$ 2.901.080.959,16

 

Além disso, o Tribunal de Contas do Município analisa um suposto conluio em 223 dos 307 contratos de obras emergenciais durante a gestão Ricardo Nunes (MDB). A análise acontece após uma reportagem do UOL, de março deste ano, revelar que os contratos trazem indícios de combinação de preços entre as empresas que entraram em concorrência.

Uma outra reportagem, publicada pela Folha de S. Paulo em outubro de 2023, revelou que a empresa de Pedro José da Silva, padrinho da filha de Ricardo Nunes, recebeu R$ 43 milhões em nove contratos sem licitação fechados com a Prefeitura de São Paulo. Os acordos foram assinados entre 2021 e 2023 pela DPT Engenharia e Arquitetura.

Ao jornal Folha de S.Paulo, na ocasião em que uma reportagem foi publicada, a prefeitura disse que as obras emergenciais contratadas são "exclusivamente para os casos de risco iminente para a vida dos munícipes ou para a estabilidade de estruturas, além de respeitarem o modelo de contratação, conforme prevê a legislação".

Segundo a administração municipal, o processo de contratação emergencial só é autorizado após recomendação expressa da área técnica da Defesa Civil e da área jurídica.

"Sobre o caso mostrado pela reportagem, a ordem de serviço foi emitida em agosto do ano passado. Somente após apresentação do projeto pela empresa chega-se ao valor e então se providencia a intervenção necessária".

 

"O chefe de gabinete da Secretaria de Obras do Ricardo Nunes é cunhado do Marcola do PCC, do maior líder de facção criminosa que nós temos atuando aqui em São Paulo e no Brasil."

 

#NÃOÉBEMASSIM. Veja por quê: O chefe de gabinete da Secretaria Municipal de Infraestrutura Urbana e Obras (Siurb) da atual gestão, Eduardo Olivatto, é ex-cunhado de Marcos Willians Herba Camacho, o Marcola, chefe do PCC, segundo reportagem do UOL.

Olivatto é irmão de Ana Maria Olivatto, que foi casada até 2002 com Marcola, quando foi assassinada.

A reportagem do UOL, citada por Boulos no debate, observa que "não há indício de que a relação de sua irmã com o líder da organização criminosa tenha repercutido na trajetória de Olivatto, servidor de carreira da Prefeitura de São Paulo".

 

José Luiz Datena (PSDB)

 

 

“Um milhão e trezentas [mil] pessoas não sabem se vão comer.”

 

selo fato — Foto: g1

A declaração é #FATO. Veja por quê: De acordo com uma pesquisa feita neste ano, a cidade de São Paulo apresenta 1,4 milhões de pessoas com insegurança alimentar grave, classificação que inclui aqueles que experienciam fome devido à falta de dinheiro para comprar alimentos.

Os dados são de um estudo realizado pelo Conselho Municipal de Segurança Alimentar e Nutricional da capital em parceria com o Observatório de Segurança Alimentar e Nutricional da Cidade de São Paulo (OBSANPA) e da Unifesp e da UFABC. A pesquisa tem como base dados do IBGE, além de 3.300 entrevistas realizadas na capital entre maio e julho de 2024.

A prefeitura contesta os números da pesquisa. Na avaliação da gestão do prefeito Ricardo Nunes, o levantamento contraria dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD), que, em 2023, apontou 1,37 milhão de pessoas no estado de São Paulo em situação de insegurança alimentar grave.

A gestão ainda alega que as ações de segurança alimentar da prefeitura estão inseridas no maior programa de acolhimento e proteção social da América Latina, reconhecido como exemplar pela embaixadora da FAO (Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura), Carla Barroso, durante visita do prefeito Ricardo Nunes ao Vaticano neste ano.

 

"Colocar calçadas que não foram construídas até agora. De 1,5 milhão de metros quadrados prometidos, só a metade foi entregue."

 

selo não é bem assim — Foto: arte

selo não é bem assim — Foto: arte

#NÃOÉBEMASSIM. Veja por quê: O Programa de Metas da Prefeitura de São Paulo para o mandato de 2021 a 2024 (SP Ágil) apontava como objetivo realizar a manutenção de 1.500.000 metros quadrados de calçadas.

De acordo com dados divulgados pela Prefeitura de São Paulo, até agosto de 2024, foram feitas manutenções em 954.016 metros quadrados de calçadas — número que representa 64% da meta.

A iniciativa, determinada na Meta 40 do Programa, é de responsabilidade da Secretaria Municipal das Subprefeituras (SMSUB) e da Secretaria Municipal de Infraestrutura e Obras (SIURB).

 

Pablo Marçal (PRTB)

 

 

“Você [Guilherme Boulos] recebeu do Lula 30 milhões de reais de fundo eleitoral."

 

selo fake — Foto: g1

selo fake — Foto: g1

A declaração é #FAKE: Veja por quê: Segundo a prestação de contas dos candidatos ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE), a campanha de Guilherme Boulos recebeu R$ 30 milhões em recursos do PT — partido da candidata a vice-prefeita da cidade na chapa de Boulos, a senadora Marta Suplicy, e do presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva.

Diferente do que Marçal afirmou, Boulos não recebeu dinheiro do presidente Lula para a campanha do psolista, segundo os dados do portal da transparência do TSE.

A Secretaria de Comunicação Social da Presidência da República reiterou que Lula não doou R$ 30 milhões para a campanha. "A doação foi feita pelo PT, com recursos do fundo eleitoral, voltados para esse fim".

Os recursos do PT à campanha de Boulos foram recebidos no dia 2 de setembro por meio do Fundo Especial de Financiamento de Campanha (FEFC) e representam 45,69% dos recursos destinados à campanha. A maior parte dos recursos (53,3%) foi destinada pela direção nacional do PSOL, no valor de R$ 35 milhões, também via FEFC.

Analisando as receitas das campanhas de todos os candidatos à Prefeitura de São Paulo, Boulos, de fato, apresenta o maior valor líquido de recursos recebidos com R$ 65.662.114,03. Na sequência, estão Ricardo Nunes com R$ 42.256.450,00 e Tabata Amaral com R$ 15.666.913,94.

 

"A educação de São Paulo regrediu de forma absurda. Hoje a gente tem um índice de alfabetização de 38% das crianças. Essas crianças, com esse atual prefeito, nós perdemos as primeiras posições e agora a gente não tá nem entre as primeiras. Passou de 20 posições. Nós somos um povo que investe R$ 25 bilhões na educação."

 

selo fato  — Foto: g1

selo fato — Foto: g1

Essa declaração é #FATO. Veja por quê: Na cidade de São Paulo, 37,9% das crianças do 2º ano do ensino fundamental da rede municipal estão alfabetizadas, segundo o Indicador Criança Alfabetizada, calculado a partir do Sistema de Avaliação da Educação Básica (Saeb). O dado foi publicado pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep) em junho deste ano. O percentual é menor que a meta prevista pelo Ministério da Educação, de 44,37%.

Essa taxa faz com que São Paulo fique em 21º lugar entre as capitais brasileiras em relação à alfabetização.

Para o ano de 2024, a Secretaria Municipal de Educação conta com um orçamento de R$ 21,87 bilhões. No entanto, outras pastas também têm recursos previstos para ações em educação, chegando aos R$ 25 bilhões citados pelo candidato.

 

Ricardo Nunes (MDB)

 

 

“Área de cobertura vegetal: a gente tinha uma área de 48% e hoje nós temos uma área de 54% de cobertura.”

 

selo fato  — Foto: g1

selo fato — Foto: g1

A declaração é #FATO. Veja por quê: Em junho de 2023, a Prefeitura de São Paulo anunciou que havia atingido o número de 54,13% de cobertura vegetal no município. De acordo com o Mapeamento Digital da Cobertura Vegetal em 2020, a cidade contava com 48,18%. Os números foram constatados a partir do Índice de Vegetação de Diferença Normalizada (Normalized Difference Vegetation - NDVI), que realiza os cálculos a partir de imagens de satélite.

 

"Eu inaugurei 19 UPAs."

 

selo não é bem assim — Foto: arte

selo não é bem assim — Foto: arte

#NÃOÉBEMASSIM. Veja por quê: A gestão de Ricardo Nunes e Bruno Covas inaugurou 17 UPAs na capital paulista entre dezembro de 2021 e agosto de 2024, e não 19. Foram abertas as seguintes unidades:

  1. Vergueiro (2021)
  2. City Jaraguá (2021)
  3. Mooca - Dom Paulo Evaristo Arns (2021)
  4. Vila Mariana (2021)
  5. Jabaquara (2021)
  6. Cidade Tiradentes (2021)
  7. Parelheiros (2022)
  8. Elisa Maria I (2022)
  9. D. Maria Antonieta Ferreira de Barros (Grajaú) (2022)
  10. III Carrão – Vereador Masataka Ota (2023)
  11. Rio Pequeno (2024)
  12. Parque Doroteia (2024)
  13. 21 de Junho [Freguesia do Ó] (2024)
  14. III Vila Maria Baixa (2024)
  15. Dr. Atualpa Girão Rabelo (2024)
  16. III Jardim Peri (2024)
  17. UPA Dr. Atualpa Girão Rabelo [Itaim Paulista] (2024)

 

Segundo a prefeitura, as UPAs Vera Cruz e Santo Amaro também foram inauguradas por Nunes. Entretanto, essas unidades foram construídas antes de seu mandato. A UPA Vera Cruz foi concluída em março de 2018, durante a gestão de João Doria, e passou por uma ampliação que terminou em dezembro de 2023. Já a UPA Santo Amaro, inaugurada no mandato anterior de Bruno Covas, em 2018, também foi expandida, com a obra sendo entregue por Nunes em junho de 2024.

Além disso, a atual gestão entregou unidades que começaram a ser construídas na gestão de Fernando Haddad (PT).

Ao final do mandato do petista, em dezembro de 2016, a cidade contava com três UPAs, conforme registrado no Plano de Metas publicado no Diário Oficial da Cidade. Haddad deixou 12 UPAs com obras em andamento, que foram posteriormente inauguradas pelos prefeitos Bruno Covas e Ricardo Nunes.

 

“57 mil empresas que estão em outros estados e municípios vieram pra São Paulo. Abriram novas 458 mil empresas."

 

selo fato  — Foto: g1

selo fato — Foto: g1

A declaração é #FATO. Veja por quê: Segundo dados da Secretaria Municipal da Fazenda e Receita Federal, de 2021 até o primeiro semestre de 2024, 56.891 empresas migraram para a cidade de São Paulo. Ainda de acordo com os órgãos, 458.148 novas empresas foram abertas na capital paulista no mesmo período. Segundo a assessoria do candidato, os números informados por Ricardo Nunes não incluem os Microempreendedores Individuais (MEIs).

 

Tabata Amaral (PSB)

 

 

“Vocês todos, todos nós, que vivemos São Paulo com o pior ar do mundo por uma semana, você realmente acha que a gente está avançando?"

 

selo não é bem assim — Foto: g1

selo não é bem assim — Foto: g1

#NÃOÉBEMASSIM. Veja por quê: No início de setembro, São Paulo apresentou tempo seco e quente, que somado à poluição das queimadas do interior do estado e do Centro-Oeste e do Norte do país, colocou a cidade entre um dos centros urbanos com o pior índice de qualidade do ar do mundo.

No começo da manhã de 9 de setembro, dados da empresa IQ Air, responsável por enviar informações para o braço do meio ambiente da ONU, mostraram que a capital ficou em primeiro lugar no nível de poluição entre as 120 cidades monitoradas.

No entanto, diferente do que foi afirmado pela candidata, o município foi superado por cidades brasileiras que não constavam na lista da empresa, como Porto Velho (RO), Rio Branco (Acre) e Campinas (SP).

 

“Candidato Nunes, quando você assumiu a prefeitura, São Paulo tinha 30 mil pessoas na rua, agora são mais de 80 mil pessoas na cidade mais rica do país.”

 

selo fato — Foto: g1

A declaração é #FATO. Veja por quê: O último Censo da População em Situação de Rua produzido pela Prefeitura de São Paulo é de 2021, ano em que Ricardo Nunes assumiu o cargo, após a morte de Bruno Covas. O levantamento registrava quase 32 mil pessoas vivendo nessas condições na cidade.

Entretanto, segundo os dados do Observatório Brasileiro de Políticas Públicas com a População em Situação de Rua (OBPopRua), da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), a cidade de São Paulo tem um total de 80.369 pessoas vivendo em situação de rua em junho deste ano.

Os dados do OBPopRua são extraídos do Cadastro Único (CadÚnico), base de dados do governo federal para recebimento de benefícios sociais, atualizados pelas próprias prefeituras, através dos chamados CRAS (Centros de Referência em Assistência Social).

À reportagem do Fato ou Fake, a Prefeitura de São Paulo enviou uma nota em que afirma que "a Secretaria Municipal de Assistência e Desenvolvimento Social (SMADS) respeita a pesquisa da UFMG, porém, considera para suas políticas públicas o Censo População em Situação de Rua produzido pela Prefeitura de São Paulo em 2021, que é de conhecimento público, resultado de um minucioso trabalho de campo feito por mais de 200 profissionais e realizado a cada quatro anos. Já a Universidade em questão, utiliza dados do CadÚnico, que são cumulativos e autodeclaratórios. A íntegra do estudo da capital está disponível neste link. O próximo 'Censo da População em Situação de Rua' está previsto para 2025, no entanto, ainda é necessário definir pontos como a metodologia, o período de entrevistas e apuração das informações, entre outros".

 

“A gente tem hoje as pessoas passando, em média, 2 horas e 40 [no trânsito]. Na verdade, um pouquinho mais.”

 

selo fato — Foto: g1

A declaração é #FATO. Veja por quê: Segundo a Rede Nossa São Paulo, em pesquisa realizada pelo Ipec (antigo Ibope), os paulistanos levam 2 horas e 25 minutos, em média, para completar todos os seus deslocamentos diários na cidade de São Paulo. O número é um minuto menor do que o índice de 2023 e seis minutos maior do que a pesquisa identificou em 2022.

Participaram da checagem: Amanda Luder, Carlos Henrique Dias, Giovanna Durães, Isadora Camargo, Klauson Dutra, Letícia Dauer, Mel Trindade e Thamila Soares

fonte: por g1