Após vitória da esquerda na França, Macron veta renúncia de primeiro-ministro; entenda manobra

Após vitória da esquerda na França, Macron veta renúncia de primeiro-ministro; entenda manobra

O presidente Emmanuel Macron rejeitou o pedido de renúncia do primeiro-ministro da França, o aliado Gabriel Attal, nesta segunda-feira (8). Em uma reviravolta, a coalizão de esquerda venceu as eleições da assembleia legislativa no último domingo (7).

A vitória do bloco de esquerda “Nouveau Front Populaire” surpreendeu o país, após o resultado do primeiro turno, no dia 1° de julho, apontar para uma maioria do “Rassemblement National”, partido de extrema-direita.

Segundo o portal R7, Gabriel Attal apresentou sua renúncia formal nesta manhã, já que o bloco de centro, “Ensemble”, ficou em segundo lugar nas urnas. O presidente Macron, contudo, pediu que o primeiro-ministro permaneça temporariamente no cargo “para garantir a estabilidade do país”.

Apesar de ter saído na frente, a esquerda não tem maioria absoluta no parlamento para indicar um primeiro-ministro. A coalizão pretende anunciar um nome para o posto mesmo assim.

O rebuliço na política francesa ocorre às vésperas dos Jogos Olímpicos de Paris, que começam em 26 de julho. A Secretaria do Turismo estima que mais de 15 milhões de espectadores visitarão a capital francesa durante as olimpíadas e paralimpíadas.

Eleitores se reúnem na Place de la Republique, em Paris, em comício após os primeiros resultados do segundo turno das eleições legislativas da França, em 7 de julho de 2024 

As eleições foram convocadas por Emmanuel Macron em uma aposta arriscada. O presidente dissolveu a assembleia legislativa da França em 9 de junho após a vitória do partido de extrema-direita de Marine Le Pen nas eleições do parlamento europeu.

O segundo turno teve participação de cerca de 60% dos eleitores. Entre as 577 cadeiras, a coalizão de esquerda elegeu 184 deputados, a aliança de Macron garantiu 166 e o partido de extrema-direita 143, de acordo com o jornal francês Le Figaro.

Por que Macron dissolveu a assembleia legislativa na França?

A dissolução do parlamento francês é uma medida prevista na constituição e já aconteceu outras vezes. Com o resultado da eleição, o partido de Macron, “Renaissance”, que detinha 169 das 577 cadeiras, saiu derrotado.

A vitória da extrema-direita nas eleições da União Europeia acendeu um alerta na França, o que levou Emmanuel Macron a desafiar os eleitores e testar a força do partido “Rassemblement National” da adversária Marine Le Pen.

O que o presidente esperava, no entanto, não se concretizou. A coalizão de centro ficou longe de conquistar a maioria no parlamento e os franceses apostaram na esquerda para barrar a extrema-direita do poder.

Marine Le Pen levou o partido de extrema direita francês, Rassemblement National (RN), à liderança das eleições no 1º turno, mas saiu derrotada no 2º turno após coalizão entre centro e esquerda no país 

Os deputados recém-eleitos se reunirão em uma sessão no dia 18 de julho para eleger o novo presidente da assembleia nacional. O Palácio do Eliseu anunciou que Macron aguarda a estruturação do novo parlamento antes de nomear um primeiro-ministro, o que ainda não tem previsão.

O cenário mais provável é o de “coabitação”, quando o primeiro-ministro e o presidente advêm de partidos políticos diferentes. A configuração aconteceu três vezes desde a fundação da Quinta República em 1958.

O resultado das eleições enfraquece Macron e dificulta seu governo, que perdeu a força que tinha para aprovar medidas na câmara. Como nenhum partido conquistou a maioria necessária, a esquerda poderia se unir ao centro e à direita para indicar um primeiro-ministro, mas a coalizão é improvável.

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