Exclusivo: como ‘bilionários do tráfico’ de Florianópolis operavam rede de empresas fantasmas
Situadas principalmente no Norte de Florianópolis, empresas eram de ramos diversificados; esquema foi alvo da Operação Bilionarco, da Polícia Civil de SC
O grupo bilionário envolvido no tráfico de drogas, desmantelado pela Operação Bilionarco no dia 27 de outubro, era operado por uma rede de 22 empresas entre verdadeiras e de fachadas. A maioria está localizada em bairros ao Norte de Florianópolis. É o que revelam dados exclusivos obtidos pelo ND+.
O delegado da Polícia Civil, Walter Loyola, explicou ao ND+ que as empresas tinham uma função específica na quadrilha. Elas eram usadas para dar aparência de licitude no dinheiro obtido através da comercialização de drogas.
“A organização recebia o dinheiro do tráfico de drogas e transformava ele em ‘lícito’, caracterizando a lavagem de dinheiro”
A investigação dividiu as empresas do grupo criminoso em dois tipos:
- Empresas de fachada: eram legalmente registradas, mas que só existiam no papel, sem qualquer operação na finalidade para a qual foi aberta.
- Empresas de verdade: eram legalmente registradas, mas com faturamento dividido entre a receita da atividade econômica para qual realmente foi aberta e do tráfico de drogas.
Para isso, o grupo envolvia pessoas chamadas de laranjas, “emprestando documentos para aquisições de veículos e imóveis, e contas bancárias”, explica o delegado.
No total, eram 13 empresas fantasmas e nove que realmente funcionavam, distribuídas pela Grande Florianópolis, afirma o delegado. Loyola ressaltou que as localizações não eram necessariamente um ponto estratégico para o tráfico de drogas, mas próximas às residências dos envolvidos na investigação.
Confira o ramo das empresas que dividiam o faturamento com tráfico de drogas
- Supermercado (Ingleses)
- Supermercado (Canasvieiras)
- Construtora (Ingleses)
- Construtora (Ingleses)
- Construtora (Canasvieiras)
- Locadora de veículos (Canasvieiras)
- Locadora de veículos (Vargem Pequena)
- Distribuidora de bebida (Ingleses)
- Revenda de veículo (São José)
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Foram bloqueados R$ 1 bilhão em bens – Vídeo: PCSC/Reprodução/ND
Carros de luxo apreendidos revelam ostentação de ‘bilionários do tráfico’
Além das empresas, veículos apreendidos pela Polícia Civil durante a Operação revelam a ostentação da quadrilha que teve R$ 1 bilhão em bens bloqueados pela Justiça.
De Porsche a BMW, passando por carros populares, a soma do valor dos automóveis ultrapassou os R$ 5,2 milhões, conforme a tabela Fipe. A lista foi obtida com exclusividade pelo ND+.
A lista conta com 35 carros e 4 motos, além de dois veículos infantis. O curioso é a diversidade de modelos, que não contam apenas com os luxuosos, mas também apresentam os populares.
BMW também é a queridinha dos criminosos - PCSC/Reprodução/NDA seleção tem desde um Fiat Palio Fire Way, de 2014/2015, com valor médio acima de R$ 30 mil, até uma Porsche Carrera de R$ 927 mil. Os carros eram utilizados pela organização em suas atividades ilícitas, informa a Polícia Civil.
Confira a lista completa de carros de luxo
- NISSAN KICKS SL CVT – 2016/2017: R$ 79,5 mil
- HONDA/HR-V EXL HS – 2022/2023: R$ 149 mil
- VW/NIVUS HL TSI AD – 2021/2021: R$ 114,2 mil
- VW/NIVUS HL TSI AD – 2020/2021: R$ 114,2 mil
- BMW/X1 S20I ACTIVE FLEX – 2015/2015: R$ 93 mil
- M.BENZ C180 – 2015/2016: R$ 111 mil
- MMC/L200 TRITON SPT GL -2019/2020: R$ 140 mil
- FIAT/PALIO FIRE WAY – 2014/2015: R$ 32.616
- BMW 320I ACTIVE FLEX – 2013/2014: R$ 93.796
- HYUNDAI I30 2.0 – 2009/2010: R$ 40.453
- VW GOLF HIGHLINE AA – 2013/2014: R$ 79,7 mil
- RENAULT/DUSTER 20 D 4X4 – 2016/2017: R$ 60,8 mil
- BMW X6 XDRIVE 35I FG21 – 2013/2014: R$ 161,9 mil
- PORSCHE 911 CARRERA S – 2020/2021: R$ 927,5 mil
- AUDI Q3 2.0TFSI – 2014/2015: R$ 91,7 mil
- FORD FUSION TIT GT DI AWD – 2017/2017: R$ 104,8 mil
- BMW X5 XDRIVE30D – 2015/2015: R$ 206,2 mil
- M.BENZ CLA200FF – 2015/2016: R$ 128 mil
- CITROEN/C3 PTECH M ATTR – 2016/2017: R$ 45,8 mil
- CHEV/SPIN 1.8L AT LTZ – 2018/2019: R$ 74,3 mil
- BMW/X4 XDRIVE28I – 2017/2017: R$ 193,8 mil
- VW AMAROK V6 EXTR AC4 – 2018/2019: R$ 195 mil
- FORD FUSION SEL GTDI – 2017/2018: R$ 95,4 mil
- LR EVOQUE DYNAMIC 5D – 2014/2015: R$ 145 mil
- VOLVO XC60 D5 MOMENTUM – 2017/2017: R$ 135,9 mil
- JAGUAR XE R-SPORT SI4 – 2016/2017: R$ 160 mil
- HYUNDAI/IX35 B – 2013/2014: R$ 70 mil
- BMW 328I 3A51 – 2013/2014: R$ 110 mil
- PEUGEOT/2008 GRIFFE EAT6 -2018/2018: R$ 72,5 mil
- FIAT/FASTBACK IMPETUS -2023/2024: R$ 143 mil
- VW AMAROK CD 4X4 SE -2017/2017: R$ 108 mil
- VW AMAROK V6 HIGH AC4 -2018/2018: R$ 181,1 mil
- VW/POLO MF – 2018/2019: R$ 64 mil
- VW TIGUAN ALLSPACE RL -2019/2019: R$ 227,6 mil
- RAM 2500 LARAMIE -2020/2020: R$ 417,6 mil
R$ 1 bilhão em bens bloqueados
Como resultado da operação, foram bloqueados cerca de R$ 1 bilhão. Conforme a Polícia Civil, a quadrilha fez movimentações superiores a R$ 800 milhões durante o período das investigações, que duraram um ano.
De acordo com a Polícia Civil, a investigação acentua a estratégia da corporação de combater o crime organizado para além das prisões, abrangendo também a descapitalização financeira da quadrilha.
“A gente percebeu que eles movimentaram mais de R$ 800 milhões somente proveniente do tráfico. Dessa forma, pedimos à Justiça o bloqueio de R$ 1 bilhão”, confirma Walter Loyola, delegado da Polícia Civil.
A Polícia Civil aponta que o dinheiro era proveniente do tráfico de drogas em diversos municípios, em especial da região Norte de Florianópolis. O bloqueio do valor tem o intuito de desestruturar financeiramente a organização criminosa.
“Eles utilizaram para lavar capitais imóveis, veículos e empresas, além de movimentações financeiras entre eles para que dificultasse a chegada da investigação a eles”, afirmou o delegado André Gustavo Costa, da Polícia Civil.
A operação mobilizou mais de 250 policiais para o cumprimento de mandados nos Estados de Santa Catarina, Paraná e Espírito Santo.Operação mobilizou mais de 250 policiais – Foto: PCSC/Reprodução/ND
Além disso, a Polícia Civil sequestrou mais de 20 imóveis, que foram identificados e confiscados pela corporação. Segundo a polícia, esses imóveis eram utilizados pela quadrilha para lavagem de dinheiro e armazenamento de entorpecentes.
Na sexta-feira (10), dois presos da referida quadrilha bilionária de tráfico de drogas foram soltos a mando da Justiça. Quatro pessoas investigadas continuam presas.
fonte: ndmais.com.br
Por ADA BAHL Edição ABINOAN SANTIAGO