O que é o superfungo detectado em 3 pessoas no Brasil, sem tratamento e fatal
O Candida Auris, conhecido como “superfungo”, voltou a ameaçar a saúde no Brasil após a confirmação de três casos em Minas Gerais. A doença tem alto índice de disseminação e resistência aos medicamentos antifúngicos.
Conforme a SES-MG (Secretaria de Estado de Saúde de Minas Gerais) confirmou a infecção de três pessoas pelo superfungo Candida auris, no Hospital João XXIII, em Belo Horizonte. Outros 22 casos estão sendo investigados na unidade.
A primeira vez que ele foi identificado em uma pessoa foi no Japão, em 2009. Já foi no Brasil, o fungo só apareceu em 2020, na Bahia.
O que é o superfungo?
O Candida auris é um fungo que não faz parte da microbiota humana. Ele é super-resistente e pode aderir tanto a tecidos vivos, quanto às superfícies inertes, como objetos.
Segundo o Hospital Albert Einstein, os seres humanos podem conviver de forma harmoniosa com fungos do da família Candida, ou seja, com eles habitando a pele ou o intestino.
O problema ocorre quando a pessoa infectada fica doente por outros motivos e o sistema imunológico cai, é quando os fungos podem causar infecções.
A maioria das infecções desse gênero é causada pela Candida albicans, que provoca candidíase genital em mulheres e homens, sapinho e dermatite de fralda em crianças.
A levedura Candida auris, no entanto, ganhou o nome de superfungo pelo grande potencial em se tornar resistente à tratamentos.
“Além de resistir a altas temperaturas, ele é resistente a desinfetantes muito utilizados em ambientes hospitalares como quaternários de amônia, por exemplo. Essas características fazem com que ele se impregne no ambiente de forma muito forte”, explicou o infectologista Filipe Prohaska, do Complexo Hospitalar da UPE (Universidade de Pernambuco).
Ao contrário dos demais fungos presentes na natureza, que não sobrevivem a temperaturas acima de 36,5°C, o Candida auris suporta temperaturas entre 37°C e 42°C.
“A incapacidade da maioria dos fungos de sobreviverem a temperaturas acima de 36,5°C, que é a temperatura do nosso corpo, efetivamente nos confere um mecanismo de defesa para fungos que estão no ambiente. Mas com as mudanças ambientais e o aquecimento do planeta, acaba-se criando uma incubadora de novas espécies, que recrutam uma série de mecanismos adaptativos para sobreviver”, explica o médico.
“Nesse processo, alguns vitoriosos vão chegar a ter capacidade de sobreviver e se multiplicar em condições de estresse maior, seja alta salinidade, alta temperatura ou baixo pH. Então, esses micro-organismos começam também a ganhar atributos de virulência, infectando plantas e outros animais como insetos e répteis. Assim, eles vão ganhando ‘musculatura’ para infectar o homem. Isso aconteceu com o Candida auris“, completou.
Quais os sintomas do superfungo?
A medicina ainda não sabe com precisão quais são as áreas afetadas pelo fungo, já que a maioria dos infectados já está doente e, por isso, o diagnóstico é complexo. Contudo, os principais sintomas são:
- Febre;
- Tontura;
- Alteração da pressão arterial;
- Dificuldade para respirar;
- Aceleração do ritmo cardíaco;
- Fadiga;
- Vômitos;
- Calafrios.
Como se pega o superfungo?
Todos os surtos ocorridos até hoje ocorreram em ambientes hospitalares, em pacientes que já estão internados devido a cirurgias ou outras doenças.
Isso ocorre porque o fungo tem alta capacidade de viver em equipamentos médicos e outros itens de uso cotidiano, como em dispositivos permanentes que perfuram a pele, explica o médico Prohaska.
Cateteres venosos centrais, por exemplo, podem se tornar uma porta de entrada para o fungo na corrente sanguínea dos pacientes.
Caso o fungo alcance o sangue, ele pode se espalhar para outros órgãos e causar candidíase invasiva, ou seja, uma infecção generalizada. De acordo com dados da OMS (Organização Mundial de Saúde), a taxa de mortalidade da candidíase invasiva varia de 29% a 53%.
Por isso, é recomendado que, caso haja suspeita de colonização ou infecção por Candida auris, os pacientes sejam mantidos isolados em quartos individuais sempre que possível.
No entanto, pacientes que fazem uso prolongado de antibióticos também estão mais propensos à ação do fungo, uma vez que, em excesso, esses medicamentos podem eliminar bactérias capazes de combater a contaminação por Candida auris.
Qual o tratamento para o superfungo?
O tratamento do superfungo é arriscado, tornando sua infecção letal, já que existem poucos medicamentos disponíveis para tratá-lo e, geralmente, a pessoa infectada já está debilitada por outros motivos.
“O que a gente faz para tratar são combinações de antifúngicos diferentes, mas o problema é que esses medicamentos são muito tóxicos para os seres humanos. Imagine a combinação de dois? Então, estamos sempre colocando na balança o benefício da terapia com a toxicidade do tratamento”, diz Prohaska.
Uma boa notícia, destacou o infectologista, é que no Congresso Europeu de Microbiologia Clínica e Doenças Infecciosas, realizado em 2023, foram apresentadas duas novas classes de antifúngicos ainda não comercializadas, cujas pesquisas mostraram sucesso no tratamento de Candida auris.
“Há muito tempo não se via o surgimento de novas classes de antifúngicos e este ano fomos apresentados a duas novas, que devem ser desenvolvidas. É uma boa notícia, mas também nos leva a pensar que, quando essas duas classes chegarem, pode ser que controlem a Candida auris, mas qual será a nova espécie resistente que surgirá em seguida? Com bactérias é assim, um novo medicamento é lançado, utilizamos, mas logo surgem bactérias resistentes. Não deve ser muito diferente com fungos, esses microrganismos se adaptam muito rapidamente”, finaliza.
fonte: ndmais.com.br