Caso VR Brasil: quem é Márcio Ramos, suspeito de aplicar o maior golpe da Grande Florianópolis
VR Brasil Patrimonial está sendo investigada por aplicar um golpe financeiro de cerca de R$ 1 bilhão; Márcio Ramos, fundador de empresa, ganhou o Troféu Destaque SC 2021
A morte de Márcio Ramos, CEO da VR Brasil Patrimonial, empresa de investimentos imobiliários de São José, aumentou ainda mais os mistérios sobre a vida e os negócios do empresário. A empresa dele, que está sob investigação da Polícia Federal e do Ministério Público Federal, é suspeita de aplicar um golpe financeiro em mais de 2 mil pessoas que totaliza quase R$ 1 bilhão.
Márcio Ramos, dono da VR Brasil Patrimonial que morreu em maio, tem vida e negócios ainda cercados de mistérios – Foto: Reprodução/VR Brasil Patrimonial
Relembre o caso VR Brasil
A empresa administrava e vendia cotas de investimentos imobiliários em Santa Catarina. Essas cotas eram adquiridas por investidores, com retornos de entre 1% a 5% ao mês sendo prometidos por conta da alta valorização imobiliária no estado, especialmente no litoral.
Quanto maior fosse o valor aportado pelo cotista, maior era o retorno. A cota mínima era de R$ 5 mil, mas alguns investidores chegaram a depositar um total de quase RS 1 milhão, segundo relatos.
Os pagamentos ocorreram normalmente até abril deste ano, quando foram encerrados e os cotistas não conseguiam mais acessar os valores investidos. Não se conhece o destino do dinheiro.
A situação piorou com a morte de Márcio Ramos, fundador da VR Brasil, em maio, o que dificultou ainda mais o acesso aos documentos e registros dos negócios da empresa. Desde então, ocorre uma longa disputa judicial entre os investidores e as pessoas ligadas à empresa.
‘Começou por baixo’: a origem de Márcio Ramos no ramo imobiliário
Márcio Ramos era corretor de imóveis registrado no CRECI/SC (Conselho de Corretores de Imóveis de Santa Catarina). Segundo relatos de parceiros de negócios, Ramos era retratado como um empreendedor que começou “por baixo”, ascendeu do zero e, devido a sua aptidão para os negócios, teria se tornado milionário.
Na RSK Trust, sua empresa mais antiga, ele trabalhou por 17 anos na corretagem de compra e venda de imóveis. Posteriormente, diversificou seus investimentos abrindo novos CNPJs, expandindo suas atividades empresariais, segundo apurado pelo ND Mais.
Márcio Ramos tinha seis CPNJs em seu nome:
- RSK Trust Assurance Ltda, fundada em fevereiro de 2003;
- Márcio Ramos Consultoria Ltda, cujo nome fantasia é VR Brasil Consultoria, fundada em fevereiro de 2020;
- VR Brasil Patrimonial, fundada em julho de 2021;
- Real M Construtora e Incorporadora Ltda, fundada em julho de 2021;
- Real M Ltda (antiga LMC Bank Solutions), fundada em setembro de 2021;
- Fazenda C3 Criação de Bovinos Ltda, fundada em dezembro de 2021.
Utilizando sua experiência no mercado, Márcio Ramos fundou a VR Brasil Patrimonial em 2021, a partir da fusão de negócios anteriores. A empresa foi promovida como uma excelente oportunidade de investimento, prometendo rendimentos significativamente superiores aos do mercado, com taxas de até 5% ao mês.
Márcio Ramos era apresentado como um empresário de sucesso, que começou por baixo até conquistar seu primeiro milhão, o que gerava confiança e admiração de investidores – Foto: Reprodução/VR Brasil
Ao longo do tempo, Márcio Ramos foi ganhando notoriedade no mercado financeiro, tendo inclusive ganhado o Troféu Destaque SC 2021 por ter “ajudado as pessoas no conhecimento de crescimento financeiro”.
Empresário morreu em um acidente de moto
Quando Márcio Ramos morreu, após colidir sua moto contra um muro no dia 16 de maio deste ano, às 12h18, em Florianópolis, a empresa já estava há dois meses sem pagar seus investidores.
A VR Brasil Patrimonial financiava a construção de empreendimentos imobiliários em Santa Catarina. Para levantar dinheiro para esses financiamentos, contava com investidores, que adquiriam cotas de investimento na empresa. Com a suposta venda desses empreendimentos, a empresa era capaz de lucrar e, assim, pagar os rendimentos aos cotistas.
Muitos dos investidores relataram que não foram avisados sobre a morte do CEO e descobriram o ocorrido através de notícias veiculadas na mídia. Alguns chegaram a levantar a hipótese de o empresário ter forjado a própria morte para fugir com o dinheiro.
A tese, no entanto, foi descartada pela PCSC (Polícia Civil de Santa Catarina): “Em relação à possibilidade do principal responsável pela empresa VR Brasil estar vivo, esta hipótese não tem fundamento, uma vez que ele sofreu acidente fatal na área continental de Florianópolis, em que foi a óbito. A informação foi confirmada pelo IML, órgão da Polícia Científica, o qual emitiu laudo com fotos da vítima”, informou a PCSC em comunicado.
Empresário conduzia negociações por conta própria e não comunicava pessoas próximas, o que dificulta compreensão sobre seus negócios – Foto: Reprodução/VR Brasil Patrimonial
Márcio Ramos era “extremamente centralizador”
A viúva de Márcio Ramos, Monique Baumgartner, afirmou em uma carta pública que o marido era “extremamente centralizador” e conduzia muitas negociações por conta própria sem comunicar as pessoas a sua volta.
“Desde o seu falecimento inesperado, nos encontramos em um momento de grande incerteza e desafios, sem o conhecimento completo das negociações que ele conduzia na empresa e sem muitas informações essenciais para prestar os esclarecimentos devidos aos advogados e cotistas”.
Essa carta foi a única manifestação de Monique ao público. A reportagem procurou a viúva, mas seus advogados informaram que ela ainda está fragilizada com a situação e prefere não se expor em assuntos relacionados ao seu marido.
Em carta aberta aos investidores, a defesa da VR Brasil Patrimonial reconhece que a morte do CEO trouxe “enormes dificuldades de acesso às informações e análise da real situação financeira da empresa”. Por isso, o paradeiro de diversos documentos, senhas de cofres e de contas ligadas à empresa ainda permanecem desconhecidos.
O escritório Mazzardo & Coelho, responsável por fazer a defesa da empresa, também relata encontrar dificuldades em levantar informações que identifiquem a real situação da VR Brasil Patrimonial.
Empresário tinha inventário negativo e contas no exterior
Após a morte, foi realizado o inventário do empresário. Ângelo Coelho, advogado da VR Brasil Patrimonial, informou que o levantamento de todos os bens em nome de Márcio Ramos é negativo.
Isso significa que, para a Justiça, o empresário não possui bens. Ou seja, quaisquer dívidas que estejam no nome de Márcio Ramos não podem ser pagas pelo sequestro ou penhora de propriedades, já que são inexistentes.
O processo também protege o patrimônio dos herdeiros de possíveis encargos financeiros deixados pelo falecido. Judicialmente, as dívidas só podem ser pagas pelos recursos da pessoa que as fez.
Márcio Ramos também tinha contas no exterior. Uma delas foi localizada nos Estados Unidos e a outra no Reino Unido. A viúva do empresário solicitou à Justiça o acesso a essas contas. No entanto, Ângelo, afirma que o pedido pode ser negado “em razão dos bens se encontrarem em outro país, fato que condiciona o pedido à legislação estrangeira”. Até o momento, ela não conseguiu o acesso.
A vida pública de Márcio Ramos
Atualmente, há pouca informação disponível sobre Márcio Ramos na internet. As contas de Instagram @marcioramos_3012 e @marcioramosvr_brasil foram desativadas, e seu perfil no LinkedIn contém apenas informações básicas.
No site da VR Brasil Patrimonial, uma nota afirma que ele “foi um líder visionário que dedicou parte de sua vida ao crescimento e desenvolvimento da empresa”.
fonte: ndmais.com
Por Geovani Martins Edição Daiane Nora