Barricadas foram incendiadas para auxiliar na fuga de criminosos, que tentaram invadir território de facção rival na região do Papaquara, no Norte da Ilha; morte de executor seria motivação de ataque
As cenas de terror que assustaram moradores, durante os ataques na Grande Florianópolis, ocorridos no sábado (19), estão relacionadas com um conflito entre facções criminosas. Barricadas e veículos foram incendiados para mascarar a fuga de bandidos, após uma tentativa frustrada de vingança contra uma organização rival.
O plano dos envolvidos começou a ser executado ainda na sexta-feira (18), quando um homem foi baleado durante um tiroteio no Norte da Ilha. A atuação da Polícia Militar de Santa Catarina reprimiu a ação naquela noite, mas não impediu que o grupo agisse novamente na manhã seguinte.
Ainda não há uma confirmação oficial da Polícia Civil de Santa Catarina, mas apuração da reportagem do ND Mais dá conta de que a invasão pode ter sido orquestrada para vingar a morte de um dos executores da facção, ocorrida no início de outubro no estado de São Paulo.
David Beckhauser Santos Herold foi morto com mais de 30 tiros, enquanto participava da gravação de um clipe, na capital paulista. Os assassinos seriam membros de um grupo criminoso rival, com origem paulistana e forte atuação em Santa Catarina.
Quem era o David Herold, o “Americano”
Natural de Florianópolis, David se mudou para os Estados Unidos quando sua mãe se casou com um norte-americano. Ele ingressou no exército daquele país quando completou 18 anos, prestando serviços às forças de segurança entre 2008 a 2013. Ele teria participado da Guerra do Afeganistão.
Em 2014, ele deixou o Exército norte-americano, por conta de uma lesão física, e voltou para Florianópolis. Ele trabalhava com a família no Riozinho, na praia do Campeche. Naquele ano, ele teria participado de um homicídio,
David Beckhauser Santos Herold tinha dupla cidadania e atuou no Exército dos Estados Unidos entre 2008 e 2013 – Foto: Domingo Espetacular/Reprodução/ND
Em 2016, “Americano”, como era conhecido, foi condenado a 16 anos de prisão pela morte do traficante Thiago Polucena de Oliveira. A condenação do produtor musical ocorreu em maio de 2016. A família Polucena comandava o tráfico de drogas no Morro do 25, na região central de Florianópolis.
Tentativas frustradas de invasão ao Norte da Ilha
Na noite de sexta-feira (18), um carro foi incendiado após um tiroteio, na região da Vargem Grande, durante a madrugada. O confronto aconteceu durante uma tentativa invasão à região do Papaquara, dominada pela facção paulista.
Houve troca de tiros entre as duas facções e um homem, de 49 anos, foi baleado e encaminhado ao hospital. A Polícia Militar de Santa Catarina foi acionada e atuou na repressão dos criminosos, que dispersaram na mata. Dois foram capturados na ocasião. Para conter novas possíveis ameaças, houve reforço do efetivo policial na área.
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Criminosos atearam fogo próximo ao viaduto do bairro Forquilinhas, em São José – Vídeo: Reprodução/ ND
Na manhã de sábado, o grupo criminoso catarinense, novamente, tentou ingressar no território rival. Dessa vez, pela presença de agentes da polícia militar na região, o confronto foi coibido com mais agilidade. Um criminoso, que teria atirado contra os militares, foi morto. A polícia militar conseguiu prender alguns dos envolvidos, enquanto outros fugiram.
No início da tarde, para mascarar a fuga dos suspeitos envolvidos nas invasões no Norte da Ilha, foi dada ordem de início para os ataques na Grande Florianópolis. Os criminosos atearam fogo em veículos e barricadas, causando pouco mais de três horas de caos e transtornos em território catarinense.
Segundo o Corpo de Bombeiros, 17 pontos de incêndio foram registrados, em, ao menos, cinco cidades. A Central de Operações Policiais da PM registrou 21 ocorrências.
Primeiro foco de incêndio foi registrado na BR-282 (Via Expressa), em São José – Foto: Reprodução/ ND
Ataques na Grande Florianópolis
O primeiro incêndio foi registrado por volta de 13h30min, na BR-282 (Via Expressa), próximo ao shopping Itaguaçu, em São José. Em poucos minutos, o número de barricadas em chamas cresceu vertiginosamente, atingindo as áreas Central e Norte de Florianópolis, e diferentes pontos da BR-101, passando pelas cidades de Palhoça, Porto Belo e Tijucas.
As forças de segurança se mobilizaram para controlar as chamas e evitar novos incêndios. Por volta das 17h, todos os focos de incêndio tinham sido controlados e o fluxo de veículos nas regiões foram normalizados. No decorrer do dia, 12 pessoas foram presas por envolvimento com os ataques na Grande Florianópolis. No domingo (20), este número chegou a 18.
“Quem achar que pode fazer algo, vai levar chumbo”, diz Jorginho
No início da noite de sábado, as forças de segurança e o chefe do executivo catarinense, Jorginho Mello (PL), realizaram uma coletiva de imprensa sobre os ataques na Grande Florianópolis. A polícia civil confirmou que as barricadas foram causados em decorrência da disputa entre facções criminosas rivais.
O Governador de Santa Catarina manifestou indignação pelos fatos registrados no decorrer do sábado. Ele afirmou que o estado não está “acostumado com isso”, uma vez que é líder em índices de segurança, quando comparado com os demais estados do país. Além dos presos, duas pessoas foram baleadas pelas forças de segurança, e um suspeito morreu após atirar contra a polícia, durante os ataques na Grande Florianópolis.
“A bandidagem pode ficar sossegada que não vai ter moleza. Eles não vão levar a melhor. Isso não é uma ameaça, é posição de governo. Quem achar que pode fazer algo, vai levar chumbo”, reforçou Jorginho Mello (PL), ao destacar que a situação havia sido controlada.
Justiça decreta prisão preventiva para 18 envolvidos em incêndios
Após audiência de custódia, no domingo (20), o Poder Judiciário decretou a prisão preventiva de 18 suspeitos de participação direta nos ataques na Grande Florianópolis. O NIS (Núcleo de Inteligência e Segurança Institucional) e a Casa Militar do TJSC acompanharam a situação em conjunto com as forças de segurança.
Segundo o Tribunal de Justiça de Santa Catarina, os suspeitos podem responder pelos crimes de participação em organização criminosa, incêndio criminoso e tráfico de drogas. Alguns deles já tinham mandados de prisão em aberto e determinações de regressão de regime por descumprimento de penas em curso.
Durante as operações, a Polícia Civil de Santa Catarina apreendeu aparelhos celulares, que devem apontar a origem da ordem de início dos ataques na Grande Florianópolis. Com os criminosos, também foram apreendidas armas, munições e galões de gasolina. A investigação está sob responsabilidade da Delegacia de Repressão ao Crime Organizados.
fonte: ndmais.com.br